Entregando-se

Dom John Main OSB (1926-1982)
Texto tirado do livro: Essential Writings - Modern Spiritual Masters Series, p. 127
Maryknoll-Orbis, 2002, New York.
Tradução: Roldano Giuntoli


Uma das coisas mais difíceis para os ocidentais entenderem é que a meditação não tem relação com procurarmos fazer qualquer coisa acontecer. Porém, todos nós estamos tão acostumados com a mentalidade da técnica e da produção que inevitavelmente, a priori, pensamos que estamos tentando arquitetar um evento, um acontecimento. De acordo com nossa imaginação, ou pré-disposição, temos diferentes idéias do que poderia vir a acontecer. Para alguns, são visões, vozes ou lampejos de luz. Para outros, profundas reflexões e compreensão. Para outros ainda, um melhor controle sobre suas vidas e problemas do dia a dia. A primeira coisa que precisamos entender, no entanto, é que a meditação nada tem a ver com fazer alguma coisa acontecer. O objetivo básico da meditação, muito ao contrário, é o de simplesmente aprender a nos tornarmos completamente conscientes do que se é. O grande desafio da meditação é o de aprendermos diretamente da realidade que nos sustenta.

O primeiro passo nessa direção para o qual somos convidados, é o de entrarmos em contato com nosso próprio espírito. Talvez a maior tragédia de todas seja a de virmos a encerrar nossas vidas, sem nunca termos entrado em contato total com nosso próprio espírito. Esse contato significa descobrirmos a harmonia de nosso ser, nosso potencial de crescimento, nossa integralidade, tudo o que o Novo Testamento e o próprio Jesus chamaram de “a inteireza da vida”.

É tão freqüente que vivamos nossas vidas em cinco por cento de todo nosso potencial. Mas, é claro que não há medida para todo nosso potencial; a Tradição cristã nos diz que ele é infinito. Se apenas nos voltarmos do eu para o outro, nossa expansão de espírito se tornará ilimitada. Isso muda tudo, aquilo que o Novo Testamento chama de conversão. Somos convidados a destravar as algemas da limitação, para nos libertarmos do interior da prisão de nossos egos auto-limitantes. A conversão é apenas a libertação e a expansão que surgem quando nos voltamos, de nossos eus, para o Deus infinito. Também, é aprendermos a amar a Deus, assim como, ao nos voltarmos para Deus, aprendemos a amar uns aos outros. Ao amar, somos enriquecidos para além de qualquer medida. Aprendemos a viver da infinita riqueza de Deus.


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