Espiritualidade Quaresmal

Dom John Main OSB (1926-1982)
Texto tirado do livro: Word Made Flesh 14-15
Darton, Longman & Todd, 1985, London.
Tradução: Alexandre de Andrade


"Uma vez que nosso espírito está aberto ao Espírito de Deus, as divisões acabam. O jogo acaba. Podemos agir de forma consistente com a nossa integridade mais profunda. Nada pode dividir nosso coração uma vez que estamos abertos ao Espírito. Somente temos que aprender a generosidade de coração para estarmos à disposição de Deus por inteiro, na mais completa abertura de amor, sem exigências ou expectativas de recompensa.

O melhor conselho é enxergar os momentos de meditação não como momentos que estão a nossa própria disposição, de maneira nenhuma. Vejamos a nossa meditação, nossa oração, não como nossa própria, mas como oração de Jesus. Enquanto estamos em atitude de auto-importância em nossa meditação, em nossa oração, sequer iniciamos ainda a nossa peregrinação. O tempo é dEle; a oração é dEle. O milagre é que a sua oração é nossa, e o milagre acontece na simplicidade trazendo-nos àquela total e indestrutível confiança no Pai, que o Evangelho descreve como "Esperança". Aproximamo-nos da meditação com esperança ao invés de desejo: sem hesitação e com um senso como que infantil de estar disponível para Deus.

Aprendemos a dizer o mantra com esta mesma simplicidade. Não estamos analisando-o, checando seus efeitos, de um modo calculista. Nós o dizemos com um amor total, sincero e vazio de si. Ainda por virtude deste vazio de si somos repletos do poder de Deus e do conhecimento que somos um com Ele porque somos amantes e amados. O único pré-requisito é o esquecimento de si expresso no total abandono de todos os nossos pensamentos, imaginação, insights e, acima de tudo, nossas próprias orações. Esta é a nossa abertura à oração de Jesus em nosso coração.

Os autores antigos chamavam meditação a prática da purificação do coração. Temos que purificar, o que significa deixa mais claro, a nossa consciência, para que possamos Ver com perfeita claridade de visão. O que vemos é o que existe. Vemos a nós mesmos, Vemos a Criação. Vemos a Deus. Na Sua luz vemos a Luz.

A revelação de tudo isso é dEle! Aprendemos através da fidelidade de nossa meditação diária como esperar em Deus e a fixar nEle nossa atenção numa profunda paciência de verdadeira presença e consciência. Numa fidelidade madura e clareza de consciência insisto em pedir a todos que coloquem de lado todos os tipos de especulações irrelevantes: estou me sentindo bem, estou tirando algum proveito, estou ficando mais sábio ou santo?...

Sabemos que há uma peregrinação a ser feita. É uma jornada para além de si mesmo em direção ao mistério de Deus. É uma grande graça que cada um de nós pode alcançar, sabe como ou ao menos tem uma suspeita a respeito. Saber sobre isso é conhecer tudo porque somente temos que começar e continuar. Peregrinar é tudo!

Precisamos aprender a nos tornarmos simples, um, plenos. Precisamos aprender a nos tornarmos paz, para que nos tornemos nós mesmos. Na meditação aprendemos como Ser e assim fazendo aprendermos com indestrutível certeza que Deus É. Quando formos meditar, sentemo-nos com a coluna ereta, fechemos os olhos e digamos nossa palavra, sem especulação, sem inibição, sem pressa, simplesmente como uma criança, até o final."

0 comentários: