Crescer em Deus

Dom John Main OSB (1926-1982)
Texto tirado do livro: The Way of unknowing pp. 79 - 81
Crossroad, 1990, New York.
Tradução: Roldano Giuntoli


Quanto mais você medita, quanto mais você persevera atravessando as dificuldades e os falsos começos, mais você se dá conta que precisa continuar, caso deseje levar sua vida de maneira profunda e significativa. Você não deve nunca esquecer o caminho da meditação: repetir seu mantra do início até o fim. Isso é fundamental, um axioma e, não deixe que nada o afaste dessa verdade. . . . A disciplina, a ascese da meditação, nos coloca essa única exigência de forma absoluta: que precisamos deixar para trás nosso eu, tão completamente, deixar nossos pensamentos, análises e sentimentos para trás tão completamente, que podemos estar totalmente à disposição do Outro...

Qual é a diferença entre a realidade e a irrealidade? Acredito que uma maneira pela qual podemos entender isso, será enxergando a irrealidade como o produto do desejo. Uma coisa que aprendemos com a meditação é abandonar o desejo e, aprendemos, pois sabemos que somos convidados a viver integralmente o presente momento. A realidade demanda imobilidade e silêncio, para nos aceitarmos como somos. Isso soa muito estranho aos ouvidos modernos, principalmente aos modernos cristãos, que foram ensinados a praticar tanto esforço ansioso: “Eu não deveria ser ambicioso? Que será de mim se eu for uma má pessoa, eu não deveria desejar ser melhor?

A verdadeira tragédia de nossos tempos é que somos tão recheados de desejos, por felicidade, por sucesso, por prosperidade, por poder, qualquer que seja ele, que estamos sempre nos imaginando como poderíamos ser. Tão raramente acontece de nos conhecermos como somos e, de aceitarmos nossa posição atual.

Mas, a sabedoria tradicional nos diz: saiba que você é e, que você é como é. Pode muito bem acontecer de sermos pecadores e, se assim for, é importante que saibamos que o somos. Muito mais importante para nós, porém, é sabermos, por experiência própria, que Deus é a base de nosso ser, na qual estamos arraigados e fundamentados. . . Esta é a estabilidade de que todos precisam, não do esforço e da dinâmica do desejo, mas da estabilidade e da imobilidade do enraizamento espiritual. Cada um de nós é convidado a aprender em nossa meditação, em nossa imobilidade em Deus, na qual temos tudo do que precisamos. [....]

A meditação é o supremo caminho para a fé, para o compromisso. Toda ação deve ser superficial, mero imediatismo, se não estiver fundamentada nesse compromisso com o que é real que também deve ser com o que é eterno. Como cristãos somos convidados a conhecer agora, com conhecimento pessoal e direto, o que é real e eterno e ao tomar esse conhecimento, viver nossas vidas inspirados por amor. Este chamado está por trás das seguintes palavras de Jesus: “Aquele que procura a glória de quem o enviou é verdadeiro e nele não há impostura” (Jo 7:18). O propósito de nossa meditação é o de que não deveria haver nada de falso em nós, apenas realidade.


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