Sexta feira Santa 2009

Laurence Freeman OSB
Traduzido por Roldano Giuntoli

‘Uma condição de simplicidade completa, que demanda nada menos do que tudo’. É assim que Juliana de Norwich descrevia a prece. Isso também capta a essência da significação da Cruz, que contemplamos com tanta atenção e amor quanto formos capazes, neste dia de silêncio. Mestre Eckhart, contemporâneo de Juliana, dizia que ‘não há nada que se assemelhe mais a Deus do que o silêncio’. E John Main dizia que cada vez que nos sentamos para meditar, novamente adentramos e mais profundamente, a morte e ressurreição de Jesus.

Cada uma dessas citações reflete o aspecto do mistério que hoje veneramos, ao ajoelharmo-nos perante a Cruz em que morreu nosso Salvador. A chave delas todas, para o cristão aberto à contemplação, é o trabalho da atenção, que se revela através de seus frutos, como sendo o trabalho do amor. Há muitas representações do Jesus crucificado: ensaguentado e alquebrado, com os olhos abertos e desperto, triunfante, destituído, compassivo, o símbolo tocante do abandono. Todavia, cada uma delas aponta para o mesmo coração daquilo que acontece, à medida que Jesus sofre e morre.

A significação central da Cruz é seu amor que se expande, através de sua qualidade alquebrada, para se encontrar com o amor de seu Pai, do qual ele é a completa expressão humana, preenchendo o universo com sua energia criativo-redentora. Na Cruz, ele está atento. Esse, e não apenas sua dor, é seu sacrifício essencial. Nos salva de nossa distração e isolamento (a pessoa distraída está sempre desconectada), ao recebermos esta atenção intensa e irreprimível.

A atenção. Esta é a simplicidade da Cruz: a redução, totalmente focalizada, de seu ser a um simples ponto. Ele passa por isso, além do alcance de nossa percepção, para o silêncio e a aparente ausência da morte. Jesus penetra profundamente, nas raízes da natureza humana, no vórtice das forças da criação original, para se encontrar a si mesmo como o Verbo, que deu origem a todas as coisas. Uma nova criação acontece, por meio desta força de amor consciente, onde Deus e a humanidade se encontram na pessoa que é, e representa, ambos. Ainda que essa obra esteja presentemente, tão silente quanto a tumba ali deve ser, ali está chegando, um sinal desta renovação que irá maravilhar a todos que a enxerguem.

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