Domingo da Ressurreição 2009

Laurence Freeman OSB
Traduzido por Roldano Giuntoli


Nos reunimos à alvorada de um belo e claro dia de Páscoa, de início um pouco cansados da vigília tardia da noite anterior, mas revigorados pelo frio ar da manhã e pelo sacramento da natureza do qual fazíamos parte.

Os participantes do retiro e os ilhéus vieram de diferentes partes da ilha e do mundo para saudar o nascer do sol. Estávamos de pé, em volta à pedra que fica no centro de um campo, marco do centro exato da ilha de Bere. Ela ali está, cuidando da ilha e da baía, há milhares de anos, erigida para um propósito que desafia a nossa imaginação. Atualmente ela está coberta por uma leve camada de musgo, desgastada pelo ar marinho. Aqueles que dela se aproximam, são encaminhados para mais perto de seu próprio centro interior, por sua pedra cinzenta e sua imobilidade inexpressiva.

Nosso grupo se encontrava, de início vivaz e brincalhão, mas logo nos entregamos a uma atenção silente, à medida que encarávamos a estrela D´alva no leste. Entre nós e o horizonte que clareava, havia a silhueta de uma colina, atrás da qual nos parecia que o sol deveria surgir. Longas e finas cadeias de nuvens pairavam sobre a água. Bem alto no céu, a trilha vaporosa de um avião assumiu momentaneamente os tons cor de rosa da alvorada. Atrás de nós, a lua minguante, intensamente brilhante, se punha.

Nosso mais jovem colega de retiro, um estudante de teatro da Polônia, leu a primeira parte do Evangelho de João, a que descreve a chegada dos discípulos ao sepúlcro vazio, passando a compreender que, conforme a Escritura, ele devia ressuscitar dos mortos e a volta para casa. Retornamos a nosso silêncio cheio de atenção; olhávamos e esperávamos. Uma mãe ergeu seu filho pequeno em seus braços. Cansando-se, alguém se aproximou e se ofereceu para lhe tomar a criança.

Era impossível pensar que o sol não iria nascer, mas em alguns momentos, a espera parecia demorada. Uma idéia irracional deve ter passado pela mente de ao menos alguns de nós, de que aquilo tudo era em vão. Em outros momentos, quando a pura atenção se sobrepunha a todos os pensamentos e o mantra crescia sem esforço, a espera era uma obra da fé, em uma paciência pura. Não era possível perceber a intensificação da luz, à medida que acontecia, mas às vezes, voce se dava conta de que acontecia e que o momento esperado estava mesmo se aproximando. A certeza de que a luz estava inegavelmente se intensificando, adicionava uma suave onda de excitação, à espera.

A seu tempo o arco solar apareceu por sobre a colina, ouro puro derramando-se sobre a linha escura contra o céu. A princípio parecia subir rapidamente. Quanto mais alto, menos óbvia a ascensão e o ouro intensificava-se num orbe branco, que precisava apenas entreabrir os olhos para poder ver.

As pessoas que erigiram a pedra, milhares de anos atrás, viram exatamente o mesmo que estávamos testemunhando. Talvez eles também tenham se quedado em veneração, a essa maravilha diária e grande reafirmação da natureza. Estávamos ali de pé, com nossa fé no Cristo Ressuscitado e enxergamos o sol nascente como um sacramento, tal qual toda a beleza da natureza e os amigos com quem esperáramos por essa benção. O membro mais velho do grupo, um meditante da ilha, leu a segunda metade do Evangelho, em que Jesus abre a compreensão de Maria Madalena para que ela o reconheça.

Mais tarde, alguém me disse que a espera havia lhe parecido longa. Ele pensara que quando o sol viesse a finalmente se elevar, isso poderia vir a ser um desapontamento. Porém, quando ele surgiu de fato, toda a fadiga e a dúvida da espera se dissiparam, assim como a névoa da manhã, havendo uma alegria, paz e encantamento ilimitados, com os quais a Ressurreição iluminou o mundo.

De todos nós: Feliz Páscoa e Aleluia!


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