Caríssimos Amigos,
O dia intermediário. O dia que se segue ao funeral. O dia de abençoada solidão e, de incomum isolamento. Quando o pior aconteceu e, o desespero foi alcançado. Procurando a iluminação, cortando madeira e buscando água e, lavando roupa. Porém, com especial intensidade.
Quando é que jamais conseguimos o que queremos? E, quanto é que devemos esperar por isso? Assim como, Eros trata de perseguir o mais elevado inalcançável, assim também, a fé jamais compreende sua meta. Ainda assim, tal como nos ensina esse sagrado intervalo entre a morte e a ressurreição, a espera não implica em intensificação do desejo e, em tentativa de se fazer o tempo passar mais rápido, mas, trata-se de dissolver os limites do tempo e, permitir que a consciência do presente se infiltre e, nos preencha inteiramente, tanto quanto nossa capacidade permita.
Nesta manhã e tarde, meditamos individualmente, ou em pequenos grupos formados espontaneamente. Isolamento e comunidade, liberdade e disciplina, fundiam-se entre si. Uma espontaneidade preciosa, imprevista e, uma liberdade de recolhimento, que não pudemos sustentar por muito tempo. Às seis nos encontramos na igreja da ilha, para resgatá-la de seu abandono. Algumas pessoas haviam colhido arbustos com flores amarelas, outras liláses, algumas com fortes convicções decidiram onde seriam melhor colocadas, enquanto outras praticavam a música, variando, ao final, desde simples cânticos celtas até Leonard Cohen. Na ilha de Bere, em qualquer ilha, como a vida, que flutua em um oceano de diversidade.
Nos preparamos para festas, ou liturgias, algumas vezes, com bastante antecedência. Freqüentemente, isto representa boa parte do gôzo do evento final. À medida que o dia e a hora se aproximam, aumenta o sentimento de excitação, o encontro com o que estivera em nosso horizonte por tanto tempo. Com a chegada longamente esperada, talvez desejemos ter praticado mais a paciência. Talvez nos perguntemos porque dissemos e fizemos tantas coisas impaciente e desatentamente, uma vez que o que iria acontecer, só aconteceria no seu devido tempo. Porém, na felicidade do acontecimento, perdoa-se nossa falta de sabedoria, que desaparece na luz da alvorada.
A meditação é uma paciência apaixonada. Nos ensina que até esperamos e nos impacientamos no aqui e agora. Não há como escapar do que esperamos.
Ó Feliz Culpa!
Com Muito Amor,
Laurence.
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Temas: Crônicas, Laurence Freeman
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