As Duas Pombas

(Mosaico das Duas Pombas - Mausoleu de Galla Placidia, Ravenna, sec. V)
Tradução, Roldano Giuntoli.

O símbolo das duas pombas empoleiradas na borda de um cálice ou, de outro vaso qualquer, é muito antigo e encontra ressonância em várias culturas.

O uso que a Comunidade Mundial de Meditação Cristã faz desse símbolo se inspirou em um mosaico, que data do quinto século, de Galla Placidia, uma das primeiras igrejas Cristãs de Ravenna, na Itália, que havia sido originalmente construída para servir de tumba imperial. Há antecedentes desse símbolo em ambas as artes Romana e Grega, mas, provavelmente suas mais antigas raízes são Fenícias.

O símbolo da pomba que bebe é arquetípico. É uma metáfora transcultural para o sagrado, que só é experimentado através da absorção pessoal na realidade. A associação com a água na iconografia Cristã evoca o simbolismo místico da morte, nascimento e regeneração ou, purificação através do batismo. A água é o antigo princípio feminino na natureza, associado com as fases da Lua e, a toda energia doadora de vida. Como néctar, era o símbolo Grego da imortalidade e, como vinho, se torna o sangue do Cristo na iconografia Cristã.

A pomba é um símbolo Cristão para o Espírito Santo. Na mitologia Grega, era o pássaro de Vênus, o pássaro do amor. Na arte Cristã, os sete dons do Espírito Santo passaram a ser representados como pombas empoleiradas na Árvore da Vida ou, bebendo as águas da sabedoria e da vida eterna.

O Cálice evoca o mistério do sacrifício, que está no coração da Eucaristia Cristã, onde o Filho se oferece ao Pai no amor do Espírito Santo e unifica toda a Criação em sua oblação. Encontramos um eco contundente desse rico símbolo espiritual no Mundaka Upanishad, escritura da Tradição Indiana, que diz: “Os pássaros, dois amigos, se agarram à mesma árvore. Desses, um lhe come os frutos, enquanto o outro observa em silêncio. O primeiro é a alma humana que, ainda que ativa, é infeliz por sua impotência. Ao contemplar a outra, porém, o poder e a glória do Senhor, liberta-se da tristeza”. (III.1.1,2)

Aqui, o dualismo do dois pássaros sugere a unidade subjacente nas vidas ativa e contemplativa de cada ser humano. Marta e Maria são as inseparáveis irmãs na vida de todos os que adoram a Deus na profundidade de seu espírito. Como disse John Main: “Há uma harmonia essencial entre Ser e Agir. Deus é atividade pura. A pura imobilidade não é inativa. É energia harmonizada que atingiu seu mais elevado objetivo e destino e, nessa harmonia, estão contidos o poder e o significado de todos os movimentos. Meditação é a realização do Ser, da pura ação. Não pode ser um estado meramente passivo, pois o que tanto é energético como também imóvel, é, no seu mais elevado ponto de ação, energia, consciência incandescente”.

Por Polly Schofield
Montreal, Canada

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